A jornada para os Jogos Olímpicos de PyeongChang foi uma experiência intensa e marcante. Foram quatro anos de muita dedicação e esforço, mantendo o alto desempenho e evoluindo em todas as áreas. Muitas pessoas me ajudaram, o que foi extremamente importante.
A temporada do Hemisfério Sul de 2017 foi excelente. Treinamos em diferentes seções de largada e pistas de SBX, alcançamos pódios de destaque nas Copas Sul-Americanas e classifiquei para as duas finais da Copa do Mundo em Bariloche. Depois disso, continuei com o treinamento físico intenso no Brasil, com foco em força, potência, intervalos aeróbicos e skate técnico.
Começamos a temporada olímpica do Hemisfério Norte no início de novembro, com treinamento específico com a equipe italiana, e rapidamente me adaptei ao ritmo de treino deles, que já estavam pelo menos dois ciclos à minha frente. Participei então de mais duas etapas da Copa do Mundo, na França e na Áustria, classificando-me para a final em ambas. Terminei todas as quatro primeiras etapas da temporada entre as 15 primeiras.
Depois disso, seguimos para a etapa da Copa do Mundo na Itália, e foi lá que sofri um acidente grave na primeira volta classificatória, bem no final da pista, e precisei ser levada de helicóptero para o hospital com uma grave lesão cervical. Embora eu estivesse praticamente incapaz de me mover nas horas seguintes ao acidente devido à dor intensa no pescoço, os exames não mostraram nenhuma lesão. Mesmo assim, o forte impacto e o inchaço fizeram com que meus músculos parassem de funcionar. De todos os acidentes que sofri, nunca senti tanta dor.
Ao retornar ao Brasil, meu médico, Dr. Leonardo Metsavaht, me disse que eu tinha que agradecer ao meu anjo da guarda, pois esse acidente poderia ter tido consequências fatais. Tive que adiar minha viagem à Europa por três semanas e passei um mês no Rio de Janeiro me recuperando, conciliando exercícios, dor, fisioterapia e mesoterapia. Perdi o treinamento na neve e três etapas da Copa do Mundo. A recuperação da lesão foi difícil, mas no final do período, eu estava começando a fazer treinamento físico e até mesmo treinamento específico de skate. Finalmente partimos para a Europa nos sentindo confiantes, ainda sentindo dores, mas muito mais controlados do que no início. E mesmo tendo perdido massa muscular, eu sabia que minha técnica e memória muscular me ajudariam muito.
Mas na neve não foi o que esperávamos. O frio, o impacto maior, as fortes compressões e as vibrações durante as descidas tornaram a dor mais intensa, tanto durante quanto após o treino. Mesmo assim, fomos a uma Copa do Mundo na Alemanha e, durante o treino oficial, a dor se intensificava a cada tentativa de descer a ladeira, e eu me sentia muito insegura. Decidimos não competir.
A próxima parada foram os Jogos Olímpicos. Eu sabia que enfrentaria uma situação difícil, com uma pista desafiadora e dores intensas. Esperava que analgésicos potentes pudessem ajudar no meu desempenho.
Ao chegar à Vila Olímpica, o frio de PyeongChang piorava a cada dia, e tive que faltar à cerimônia de abertura. Na véspera do primeiro dia de treinamento oficial na pista de SBX dos Jogos Olímpicos, com muita insistência minha e da comissão técnica, o médico da delegação brasileira me receitou um analgésico potente. Com a medicação, foi a primeira vez que me senti normal, e meu pescoço parou de me incomodar por algumas horas. Consegui me concentrar na minha técnica e ganhar um pouco mais de confiança na pista.
No final do segundo dia de treinamento, quando já estava me sentindo um pouco mais confortável, dei o maior salto pela primeira vez, achando que estava na velocidade certa. Mas havia um leve vento contrário que não percebi, e aterrizei curta tendo um grande impacto, e machuquei o joelho e o calcanhar direitos.
Fui transportada pelos patrulha de esqui em um trenó até a clínica e depois levado ao hospital, onde fiquei por várias horas para fazer raios-X e ressonâncias magnéticas. Embora os exames não tenham revelado fraturas, eu não conseguia andar devido à dor no calcanhar e inchaço no joelho.
No dia seguinte ao meu acidente, na competição masculina de SBX, 11 atletas foram hospitalizados durante a final com quadros graves, como fraturas cervicais, fraturas da tíbia, lesões nos ligamentos do joelho, entre outros. Depois dessa experiência, muitas mudanças foram feitas na pista para a competição feminina, que ficou melhor e teve menos acidentes. Mesmo assim, seis meninas já haviam sofrido acidentes durante os dias de treino, incluindo eu, que não pude largar. Foi muito triste assistir à competição de fora.
Voltando ao Chile e depois ao Brasil, examinei meu joelho e, depois de algumas opiniões divergentes, finalmente concluímos que a cirurgia não era necessária.
A melhor surpresa que tive foi quando cheguei ao Rio de Janeiro. Tive uma recepção maravilhosa organizada pela minha irmã Ana, com familiares, amigos e vizinhos, incluindo um lindo samba cantado em minha homenagem pelo grupo Batuque do Martelo, da rua onde cresci. Veja o vídeo em anexo. Samba Isabel Clark
Depois desses dois acidentes graves, agradeço a Deus por estar saudável e conseguir caminhar. Não só pela jornada para esta última Olimpíada, mas por todas as Olimpíadas para as quais me preparei, quatro ciclos olímpicos, onde me dediquei integralmente, com altos e baixos, foco, amor e resiliência. Sou muito grata pelo apoio de todos que tornaram essa jornada possível e estiveram comigo durante todo o processo, especialmente Iván Fuenzalida, que me deu total apoio e dedicação durante todos esses anos. E aos anjos e seres de luz que estão sempre ao meu lado, me protegendo e me dando força. É isso, pessoal, obrigada novamente por me seguirem e não se esqueçam de conferir as fotos e vídeos, tem muita coisa legal!




